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terça-feira, 20 de novembro de 2012



Por Mariana Galante
Fonte: Revista Barbara/ed.3
“Entro semanalmente em salas de bate-papo sobre sexo, me masturbo com as imagens e conversas e também alugo DVDs. Gosto de tudo um pouco, até de mulher com mulher, mesmo eu sendo heterossexual. Essas coisas me fazem sentir bem, me animam para fantasiar sozinha ou com meu parceiro.”
A autora da frase é Martha Ribeiro*, e ela vai adiante: “Namoro há quatro anos, mas nunca tive abertura para falar de minhas fantasias com ele. Como simplesmente adoro sexo anal e ele nunca tocou no assunto, procuro me satisfazer na Internet.” Martha, de 29 anos, de São José do Rio Preto (interior de São Paulo) garante saber separar sexo de amor e busca na pornografia o que falta na cama. “Cenas explícitas de sexo me deixam enlouquecida. E gosto de curtir isso, focar na fantasia, naquelas cenas tórridas. Acho hipócrita quando as mulheres se comportam ‘escandalizadas’ diante de uma afirmação desta. Qual é o problema? Deixar-me levar pela experiência do pornô me proporciona um autoconhecimento sobre minhas fantasias e sobre meu próprio corpo, que ninguém mais me proporcionaria. É uma questão de abrir a cabeça.”
Esse é o ponto de vista de Carla Machado*, uma mulher de 34 anos, solteira, gerente de comunicação de uma indústria, bem-sucedida, que se diz “farta de tratar simples questões sexuais como os tabus mais absurdos.” Para Iuri Ihara, psicólogo clínico, o conceito de pornografia varia de acordo com as regras e costumes de cada época e de cada sociedade. “Costumamos enxergar o erotismo como algo nobre que nos lembra as obras de arte ligadas à expressão da sexualidade. E pornografi a como algo vulgar, obras inferiores, ligadas simplesmente ao sexo, produzidas com o objetivo imediato de comercialização e consumo.
Podemos dizer que erotismo é uma forma de estimular o impulso sexual, e pornografia é um tipo de erotismo em que mobilizam-se figuras do imaginário por meio de fotografias, contos ou filmes, com o objetivo de estimular o desejo, fantasiar um relacionamento sexual em uma masturbação ou estimular uma relação sexual concreta”, explica.
Aos 35 anos, a carioca Andréa Pinheiro* está solteira, mas confessa que, quando está namorando, não sai da sex shop: “Costumo consumir material erótico somente quando estou em um relacionamento. Compro vibrador, gel, DVD, anel peniano e em termos de conteúdo gosto de tudo um pouco. E isso apimenta sim a relação”, diz.
Sem vergonha
Izabel Mello* é sócia de uma sex shop voltada exclusivamente para o público feminino. Depois de cinco anos com uma loja refinada no bairro dos Jardins, em São Paulo, Izabel e sua sócia partiram para as vendas somente pela Internet: “Quando inauguramos a loja definimos que não seria estratégico vender pela web, pois queríamos que a brasileira tomasse coragem de entrar em uma sex shop para perceber que nem todas são necessariamente escuras e mal localizadas. A decoração foi detalhadamente pensada para tornar o ambiente agradável e sensual sem ser vulgar e, dessa maneira, conseguimos fazer com que as clientes ficassem a tarde inteira na loja conhecendo os produtos e trocando experiências amorosas com nossas vendedoras, que eram todas formadas em psicologia.”
Foi com esse atendimento superpersonalizado que a marca conquistou e fidelizou as clientes que hoje compram pela Internet e fazem o negócio se estender, indicando para amigas de outras cidades e estados. Izabel conta que o mercado erótico percebeu na mulher um grande potencial consumidor. “São elas que, na maioria das vezes, acabam introduzindo as ‘brincadeirinhas calientes’ na relação e convencendo os parceiros a utilizarem os brinquedinhos sem medo. Sendo assim, os fabricantes se voltaram para elas. A indústria de filmes, por exemplo, procurou direcionar parte de sua produção para aqueles com um pouco mais de história, romance e visual melhor explorado, como roteiros em praias exóticas, e trabalhar com lindos atores e atrizes.
Em se tratando de acessórios, hoje a maioria é produzida com elementos fofos que remetam à feminilidade e são feitos com cores soft como rosa, amarelinho etc.”, relata a empresária. Casada e com dois filhos adolescentes, Patrícia Villares*, 40 anos, vive no Paraná e reclama que, por morar em uma cidade pequena, só teve acesso a produtos eróticos quando uma conhecida passou a comprar e revender nas casas das clientes. “Na minha cidade não tem sex shop, então não tenho contato com nada que não seja exclusivamente voltado ao público feminino.Vejo filmes eróticos na TV, compro acessórios pra gente, como bolas perfumadas, vibrador, camisinhas estimulantes, velas comestíveis e até lingeries daquelas de fantasias”, diverte-se Patrícia.
A sexóloga Marilandes Braga considera saudável para a mulher e para o casal esse tipo de brincadeira: “As mudanças no comportamento da mulher têm história recente, mas uma nova ordem sexual está surgindo. O casal estando de acordo, não é necessário esperar a relação estar abalada para fazer uso de pornografia. É possível brincar juntos de maneira saudável”, adverte a sexóloga.
“Sempre busco produtos. Pelo menos uma vez por mês compro alguma coisa. Amo meu marido e, sinceramente, não tenho necessidade de sexo com outra pessoa, me sinto satisfeita só com ele, mas acho importante ter algo afrodisíaco, estimulante. Adoro provocar e me insinuar para ele, isso apimenta o casamento e o sexo”, comemora Patrícia. “Tem gente que acha que ele pode pensar mal de mim, que o casamento corre risco. Que bobagem! Não sinto isso como perigo, o único medo que tenho é dos nossos filhos entrarem no quarto quando eu estiver vestida de enfermeira (risos).”
O psicólogo Iuri Ihara explica porquê tem quem goste e quem despreze a pornografia: “No século 20, com o avanço tecnológico (televisão, cinema, Internet), ocorreu uma explosão do erotismo. A pornografia passa então a ser muito mais consumida, mas não pode ser considerada um produto como outro qualquer. Ao ser consumida, ela aciona o mecanismo da fantasia, sendo assim, cada indivíduo se relaciona de um modo singular com o material pornográfico.”
Cada um no seu quadrado
A fase da vida em que cada pessoa se encontra também influencia no tesão e na busca pela satisfação por meio da pornografia. A estudante paulista de 28 anos Luana Padilha foi morar na França há dois anos e encontrou grande dificuldade em se relacionar com os homens de lá que, segundo ela, não encaram o ‘ficar’ com a mesma naturalidade dos brasileiros. “Aqui na França tudo é oito ou oitenta. Ou você namora e aí a coisa é séria, ou você faz sexo só pelo sexo, mas não passa da primeira noite. Não existe o ficar, nem o amigo colorido e eu, que sempre gostei de material erótico, acabo entrando uma vez por semana, em média, na Internet atrás principalmente de coisas divertidas. Quadrinho erótico eu tenho vários, literatura erótica também. Gosto de sites que tratem o sexo como uma coisa leve e até engraçada”, conta Luana.
Para o psicólogo, o material pornográfico masculino consiste em um suceder contínuo de atos sexuais, sem necessidade de uma história, servindo apenas como acessório para a masturbação ou as preliminares. Já o erotismo feminino pede o romance, o apaixonar-se lentamente, a descoberta, o deslumbramento, ou seja, o erótico não é o relacionamento sexual, mas sim a languidez. “Podemos pensar que o desejo masculino é mais fetichista, ele ‘prefere aos pedaços’: o decote, a voz, um olhar, a perna cortada pela cinta-liga, a forma dos lábios e por aí vai. E o desejo feminino é mais integrado, enxerga o objeto de desejo como ‘pessoas inteiras’.
O erotismo masculino é mais visual e genital e o feminino, mais tátil, ligado aos odores, ao contato”, observa Ihara. Sem dúvida, o acesso das mulheres à pornografia teve um aumento considerável nas últimas décadas com material voltado só para elas e a um público mais exigente, bem informado e livre de preconceitos. Elas agem cada vez mais de maneira semelhante aos homens no que diz respeito ao sexo, mas, ainda assim, as características femininas e masculinas se diferem.
Mesmo admitindo sem problemas que também gostam de pornografia, as mulheres, em sua maioria, ainda valorizam muito o afeto, a cumplicidade, o jogo de sedução e, ao contrário dos homens, que costumam se masturbar escondidos de suas parceiras, as mulheres querem mais é compartilhar com o companheiro essa pimentinha extra que estão descobrindo.
* Os nomes foram alterados para preservar as entrevistadas
E você o que achou?

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Ele gosta de pornografia?

Não é novidade para ninguém que pornogra fia é um assunto delicado. Ainda mais para um casal. Apesar de não existir coisa mais normal no universo masculino do que um filminho de sexo aqui, outro ali, as mulheres em geral ainda não estão familiarizadas com este tipo de material. Muitas vezes, nem conseguem conversar direito sobre o assunto. O que fazer, então, quando o namorado é flagrado, digamos, com a mão na massa?
A razão da indignação
Não se preocupe, você não é uma megera. A maioria teria esse mesmo sentimento de surpresa, o que é normal quando consideramos as diferentes educações sexuais que meninas e meninos recebem em nossa sociedade. Além disso, cada um cresce aprendendo o seu próprio lado da história e acaba não entendendo direito a visão do outro. “Homens só pensam em sexo”. Será? Você já tentou perguntar?
O psicólogo e psicoterapeuta sexual Alessandro Ezabella explica: “Homens e mulheres enxergam o sexo de formas muito distintas, atribuindo valores diferentes a ele, e criando expectativas muitas vezes a partir do seu ponto de vista, sem levar em conta a perspectiva do outro”. Ou seja, faz parte de ser mulher não entendê-lo nesse aspecto. Mas não custa nada tentar fazer diferente em nome de um bom relacionamento, não é?
Tornando-se dispensável
Das várias preocupações que podem passar pela cabeça de uma mulher em uma situação como esta, a mais comum delas é se a cama do casal anda tão parada que ele tem precisado recorrer a outros métodos. A pornogra fia estaria servindo, na imaginação da moça, como substituição de uma atividade sexual plena. Mas, como muitas outras ideias femininas sobre o assunto, este pensamento é distorcido.
“Quem disse que uma coisa exclui a outra?”, pergunta Ezabella. “As mulheres enxergam esse comportamento como algo que as exclui do relacionamento, enquanto os homens enxergam mais como um passatempo, vinculado à questão da excitação e da fantasia sexual”. Tente ver a masturbação como algo que, além de longe de negativo, está inteiramente separado das relações a dois. Seriam, basicamente, dois setores diferentes que devem ser trabalhados para que se atinja uma vida sexual saudável.
E isso é válido tanto para homens quanto para muheres! “É meio como uma fuga da realidade”, explica Danillo Santinello, de 20 anos. Na opinião dele, mulher nenhuma jamais deveria se sentir ameaçada por uma personagem de filme pornô. “Não faz nem sentido”, indigna-se ele. “Apesar de ser divertido, não tem comparação nenhuma com sexo de verdade, entre duas pessoas. São coisas diferentes, completamente separadas”, garante.
Abrindo a cabeça
Convenhamos, não é como se ele estivesse transando com outra. Tente primeiro encontrar aquela moça moderna dentro de você, que sabe perfeitamente que 10 entre 10 homens consomem algum tipo de material pornô, e só depois pense sobre o assunto. Tratando-se de erotismo saudável – do tipo que não envolve desvios de conduta sexual, como violência extrema ou outros –, seu relacionamentonão será nada prejudicado. Assim, quem sabe a pornogra fia não passa a signi ficar algo completamente diferente para você?
Apesar de toda a encenação – muitas vezes hilária – dos filmes eróticos, os poucos de qualidade podem acabar sendo mais envolventes do que constrangedores. Com eles, fica mais fácil se acostumar com o assunto. Depois disso, é só continuar assistindo de vez em quando e aproveitar as vantagens. Quando a pornogra fia se tornar algo mais comum na sua vida, você poderá aprender muita coisa. Os filmes, além de poderem acrescentar muita novidade ao seu repertório sexual, acabam instruindo sobre o que a deixa excitada.
Mais ainda, por que não compartilhá-los com ele? Homens e mulheres podem enxergar o sexo de maneiras diferentes, mas o sentem do mesmíssimo jeito. Na verdade, mocinhas ficam constrangidas em relação a esses assuntos por ouvirem a vida inteira que eles não são “apropriados”. Mas como você vai saber sem nunca ter entrado em contato com eles?
O que eles querem
Você já entendeu direitinho os motivos masculinos. Agora é a hora de entender as vontades. Sabemos que fazer uso da pornogra fia do mesmo jeito que eles pode trazer autoconhecimento e, principalmente, liberação sexual. Agora, será que eles querem uma mulher que encare materiais eróticos como os homens? Ou só ser mente aberta e compreensiva já está mais do que bom?
“Eu estranharia no começo”, confessa Lucas Fajardo, 19. “Mas depois acho que até seria interessante”. A resposta do Danillo é bastante semelhante. Segundo ele, quando uma mulher admite assistir a pornografia, ela revela tanto a sua personalidade forte, sem medo da opinião dos outros, quanto um grande apetite sexual. “E isso é sempre positivo, não é?”, acrescenta, sorrindo.
E quando é o contrário? Há problema em admitir que não assiste, nem tem interesse? A Isabela, namorada do Lucas, nunca viu um filme pornô, e ele não se incomoda nem um pouco com isso. “Já tentei mostrar”, conta. “Mas ela fica envergonhada”. E a namorada, que não é boba, sabe que o Lucas assiste, e também não liga. Um exemplo de casal a se seguir.
Danillo acha que, se a mulher tem tantos problemas assim com material erótico, não precisa forçar. “Saber entender o namorado é legal, né?”, recomenda ele. “Mas assistir, assim que nem homem, não é tão importante assim”. Então, se para você é praticamente impossível se imaginar gostando de ver aquele monte de gente pelada na tela da televisão, não se preocupe. Ninguém espera nada diferente. É só não dar chilique quando descobrir que o seu amado, assim como qualquer outro rapaz no mundo, adora assistir a isso desde que ele entrou na puberdade. Também não vale ver junto com ele só para comentar a acidez ou a celulite da atriz, não é? Se for só para dar umas risadas, esclareça antes que o objetivo é apenas esse.
Fonte: Revista Ouse, ed. 8